Irrigação por Gotejamento em 2023.

Um panorama dos impactos da irrigação por gotejamento para os cultivos de grãos, café, cana-de-açúcar e citros. 

O ano de 2023 representou uma série de desafios significativos para os setores agrícolas brasileiros, com impactos notáveis nos cultivos de grãos, café, cana-de-açúcar e citros. Em uma análise conjunta das condições de mercado e climáticas, especialistas da Netafim, empresa líder e pioneira em irrigação por gotejamento, compartilham suas percepções sobre os obstáculos enfrentados em cada setor.

 

Grãos 

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Desafios do Ano: William Damas, Coordenador Agronômico para Grãos e Fibras da Netafim, ressalta que em 2023, o cenário indicou uma volta à normalidade pré-pandemia em relação a preços reduzidos das comodities ou dentro da normalidade. Contudo, incertezas políticas e destaque para grandes desafios de ordem climática, como o El Niño, o início da safra 2023/24 começa sendo ainda mais desafiador para o produtor de grãos. Com esses desafios, o produtor fica mais contido e inseguro para realizar novos investimentos em suas propriedades, reduzindo a procura por máquinas e novas tecnologias como observada no decorrer do ano. 

“Com o El Niño, ocorreram muitas chuvas no sul do país, e abaixo da média na região central, ocasionando atrasos nos plantios de soja com prováveis e consideráveis perdas de produtividade para o grão. Como destaque, grandes regiões produtoras no Estado do Mato Grosso que já contabilizam perdas no início do desenvolvimento do cultivo da soja, principal grão produzido no estado e no Brasil”, detalhou Damas. 

Impacto da Irrigação por Gotejamento: O especialista detalha que a utilização do sistema de gotejamento subterrâneo foi crucial para a germinação da soja dentro da janela favorável, mantendo a produção sem grandes impactos da falta de chuvas e altas temperaturas. O sistema evoluiu para adaptar-se a diversas características de solo, permitindo plantios mais eficientes. 

“Logicamente, é importante destacar que a concepção correta do sistema, instalação adequada, manejos de solo e irrigação são fundamentais para a realização eficiente da técnica de germinação dos cultivos através do sistema de gotejamento subterrâneo”, disse o especialista. 

Perspectivas Futuras e Recomendações: O uso crescente da irrigação, especialmente do gotejamento subterrâneo, promete garantir a irrigação completa das áreas produtivas, oferecendo segurança frente às instabilidades climáticas e de mercado. Damas recomenda investir em tecnologias que proporcionem segurança e potencializem a produtividade, como a irrigação, para enfrentar incertezas climáticas e garantir uma produção sustentável. 

“O gotejamento é uma ferramenta estratégica para que o produtor consiga irrigar 100% de sua área produtiva, por meio da harmonização de sistemas de irrigação, tendo segurança e garantia de produção frente às instabilidades diversas, de mercado e climáticas”, finalizou Damas.

 

Café 

Desafios do Ano: Rafael Gonzaga, Especialista Agronômico da Netafim, destaca a redução dos preços do café em 2023, além do atraso no início das chuvas no novo ciclo que iniciou em setembro, além de ondas de calor e problemas com pragas como o bicho mineiro, impactando a produção de 2024 do café arábica nas principais regiões produtoras. 

“Em relação aos valores, quando comparado ao ano anterior, o café teve uma significativa queda de preço em 2023, tendo sido praticado valores próximos a R$1.500,00 por saca em 2022. Já em 2023, manteve-se entre R$800,00 a R$900,00 durante a maior parte do ano. No entanto, essa redução de preço foi impulsionada, em parte, pela melhor produção em 2023.” 

Esse ano as altas temperaturas e ondas de calor impactaram a lavoura cafeeira, principalmente a de sequeiro, resultando em escaldaduras nas folhas, e outros danos ainda não totalmente mensurados. “As ondas de calor, apesar de terem ocorrido por um curto período, algumas semanas, foram de alta intensidade. Elas aconteceram na fase de crescimento dos frutos, o que pode ter como consequência grãos menores e mais leves, afetando a produtividade de 2024” detalhou Gonzaga. 

Impacto da Irrigação por Gotejamento: A irrigação por gotejamento foi fundamental para reduzir os efeitos da seca e das altas temperaturas, mantendo as lavouras com boa umidade, minimizando consideravelmente os danos como escaldaduras e possibilitando o bom desenvolvimento das plantas e dos frutos, mesmo em condições tão adversas. 

“A irrigação por gotejamento, manejada corretamente durante o período seco e quente que tivemos manteve as plantas hidratadas. Dessa forma, quando comparada às áreas sem irrigação, a lavoura irrigada manteve seu processo de transpiração ativo por um período consideravelmente maior durante o dia. Com o processo de transpiração ativo, a temperatura foliar se mantém menor. Dessa forma, em lavouras irrigadas por gotejamento a temperatura foliar se mantém menor quando comparado ao sequeiro. Ocorrendo assim, os processos fisiológicos de forma mais eficiente, o que resulta em maior crescimento e melhor produtividade”, detalhou o especialista. Ainda segundo Gonzaga, dados de pesquisa demonstram redução da temperatura foliar em 8,4 °C com o uso da irrigação por gotejamento. Sendo a temperatura foliar de 42,4 °C no sequeiro e 34 °C no irrigado. 

Perspectivas Futuras e Recomendações: Gonzaga destaca a crescente conscientização dos cafeicultores e consultores sobre a necessidade da irrigação, mesmo em regiões tradicionalmente consideradas com bons índices pluviométricos. Ele enfatiza a importância do manejo adequado da irrigação para otimizar o uso da água e minimizar o efeito da seca e das altas temperaturas. 

Houve um aumento na demanda por irrigação, especialmente em áreas que antes acreditava ter chuvas regulares, demonstrando que os produtores estão mais conscientes de sua necessidade e benefícios. “Nos últimos anos observamos que as chuvas foram mal distribuídas, com secas em períodos cruciais para o cafeeiro, como na época da florada. Os cafeicultores estão compreendendo a importância da irrigação devido aos fortes impactos em produtividade que o clima seco e quente dos últimos anos ocasionou em suas lavouras, com perdas chegando a 70% em algumas regiões em de 2022. Além disso, a correta gestão da irrigação é crucial. Apenas possuir o sistema de irrigação não basta; é essencial a orientação de um profissional experiente para monitorar e irrigar da forma correta, obtendo ganhos em produtividade e segurança contra secas e altas temperaturas”, finaliza Gonzaga.

 

Cana-de-Açúcar 

 

Desafios do Ano: Daniel Pedroso, especialista agronômico da Netafim, menciona a instabilidade climática após dois anos de estiagem, afetando o planejamento de safra. Oscilações climáticas prejudicaram o fornecimento de cana às indústrias. 

“Atualmente, há duas realidades distintas: em estados como São Paulo e Paraná, as chuvas estão mais próximas do normal, porém, instáveis, com períodos de altas temperaturas e estiagem prolongada durante o último trimestre. Por outro lado, regiões como Goiás e Mato Grosso enfrentam períodos de seca. O ponto comum é a dificuldade no planejamento devido à imprevisibilidade climática, atrapalhando a execução dos cuidados com os canaviais. Isso impacta negativamente a produção, especialmente em um ano de aumento nos preços do açúcar, no qual as indústrias não podem tolerar oscilações na produção”, disse Pedroso.

Impacto da Irrigação por Gotejamento: A irrigação por gotejamento foi essencial para fornecer água e nutrientes à cultura durante períodos de seca e chuvas irregulares, garantindo seu desenvolvimento e reduzindo os impactos adversos. 

“A irrigação por gotejamento foi usada em duas frentes: para mitigar a escassez de água em regiões afetadas e para suplementar chuvas irregulares. Além disso, usinas e produtores estão aproveitando os outros benefícios da irrigação, como a redução da emissão de carbono para o meio ambiente (RenovaBio), a diminuição dos custos de produção e a proteção das lavouras”, explicou o especialista. 

Perspectivas Futuras e Recomendações: Pedroso enfatiza a necessidade de não esperar anos secos para adotar a irrigação, destacando o planejamento como essencial para enfrentar a imprevisibilidade climática e garantir estabilidade da produção agrícola. 

"O clima está variando e isso é um fato. Não devemos esperar anos secos para colocar irrigação. Temos que aproveitar os bons anos de chuvas para investir na tecnologia já esperando os anos de estiagem. Seria a mesma correlação com uma viagem de férias, não podemos esperar o combustível do carro acabar para procurar um posto de abastecimento, temos que fazer isso antes. Isso se chama planejamento”, finalizou Pedroso.

 

Citros 

Desafios do Ano: A citricultura enfrentou desafios significativos durante 2023, incluindo o aumento expressivo de plantas infectadas pelo HLB-Greening e a intensificação da população do inseto vetor, conhecido como psilídeo (Diaphorina citri). A situação afetou diretamente a produção, reduzindo-a em até 50% nos primeiros anos de infecção, levando à diminuição da produtividade e ao aumento nos custos de produção. Além disso, a escassez de mão de obra, especialmente na colheita, persistiu como um desafio relevante. 

Durante o ano, ocorreram duas grandes ondas de calor, atípicas devido ao fenômeno El Niño. As elevadas temperaturas, registradas na segunda quinzena de setembro e na primeira quinzena de novembro, foram seguidas por escassas chuvas em algumas regiões, como no norte e nordeste de SP e no triângulo mineiro em dezembro, fato incomum para o período. Essas altas temperaturas surgiram após eventos de chuva que induzem as plantas a florescerem, estando em estágio inicial ("chumbinho") durante o calor intenso e a baixa umidade. Tais condições são prejudiciais ao desenvolvimento de frutos novos, causando estresse nas plantas, levando à queda intensa dos frutos e impactando significativamente a produção da safra do ano seguinte. 

“Possivelmente teremos aumento nas plantas infectadas também no próximo ano. A falta de mão de obra é um desafio não apenas na citricultura, mas em todo o agronegócio. Encontrar e manter trabalhadores tem sido difícil. O setor procura mecanizar mais, mas ainda enfrenta dificuldades em encontrar pessoal qualificado e disposto para a colheita, mesmo oferecendo incentivos e salários atrativos”, ressaltou o especialista agronômico da Netafim, Wagner Suavinha. 

Impacto da Irrigação por Gotejamento: A irrigação por gotejamento foi crucial para mitigar os efeitos adversos. Em regiões com déficit hídrico, ajudou a reduzir o estresse das plantas, minimizando a queda de frutos, mantendo-os saudáveis e contribuindo para uma produção mais estável. O sistema também permitiu ajustar a época de florada, protegendo os frutos iniciais do estresse térmico e aumentando o peso e a qualidade dos frutos maduros.

“Tem-se notado uma procura maior por sistemas mais completos, com lâminas de irrigação mais ajustadas às necessidades da cultura, com fertirrigação mais eficiente e maior tecnologia embarcada para operação e monitoramento. Tais características até então eram conhecidas, porém poucos exploradas nessa cultura, entretanto essas melhorias têm mostrado bons resultados agronômicos e de otimização de mão de obra”, explicou o especialista. 

Perspectivas Futuras e Recomendações: Com os desafios evidenciados, a utilização da irrigação por gotejamento torna-se cada vez mais vital para a citricultura. A tendência é migrar para regiões onde a irrigação é essencial, como no noroeste de São Paulo e em outros estados, garantindo produções mais elevadas e viabilidade financeira. É crucial encarar o investimento em sistemas de irrigação como um seguro para a produção, buscando sistemas mais avançados para otimização de recursos e mão de obra, algo essencial em um contexto de desafios climáticos imprevisíveis. A necessidade de tecnologia mais avançada e eficiente torna-se uma realidade para manter a sustentabilidade e competitividade no setor de citros. 

“Hoje, é difícil pensar em citricultura sem irrigação, pois essa será uma das ferramentas de apoio ao produtor para obter produções mais altas e contribuir na renda para poder contornar os custos que estão sendo impostos para poder enfrentar os desafios apresentados. Por mais que possa, de início, apresentar-se como um valor de investimento alto, a irrigação tem se pagado em pouquíssimas safras, principalmente em anos de desafios climáticos como os que estamos vivendo. Investir em sistemas mais incrementados não é um luxo, e sim uma necessidade”, finalizou Suavinha.