Por elevar em até 50% a produtividade, agricultura irrigada é aliada fundamental para a redução de emissão de carbono.

Por Daniel Pedroso, especialista agronômico da Netafim Brasil.

Com a promessa de reduzir a emissão de carbono em 50% até 2030, o Brasil entra como protagonista mundial nessa batalha.

Para esse ponto, o país tem um forte e grandioso aliado, o agronegócio. Responsável por aproximadamente 25% do PIB brasileiro, esse setor é um dos maiores, se não o maior, gerador de renda para o país.

Em todo mundo, se comenta sobre os carros híbridos, movidos a eletricidade, no entanto, não podemos nos esquecer que o Brasil contribui com o etanol, através do setor sucroenergético.

Sabemos que com o uso do etanol em substituição à gasolina diminuiria em 73,3% as emissões de carbono equivalente por ano, de acordo com o padrão do IPCC, ou 78,1%, quando considerado o modelo dos cientistas brasileiros.

Junto a isso, recentemente a Forbes publicou um estudo que diz que o cultivo de cana de açúcar remove 9,8 milhões de toneladas de CO2/ano.

Mesmo com toda essa eficiência, o setor sucroenergético ainda tem a possibilidade de ser mais agressivo, através da adoção de técnicas que melhorariam as produtividades.

Das várias tecnologias empregadas, a irrigação é a única que pode aumentar em mais de 50% a produtividade dos canaviais. No entanto, a água também deve ser considerada como um insumo e junto a isso como um bem natural, vital e de grande importância para a sociedade. Nesse ponto, o gotejamento é a tecnologia de irrigação que mais se destaca, pois além de ser a mais nova e, portanto, tecnologia ainda, segundo estudos da Embrapa, que possui maior eficiência de aplicação quando comparada às demais.

Como dito anteriormente, com o uso da irrigação localizada a produtividade pode aumentar em torno de 50% da produtividade histórica da área. Sendo assim, considerando que uma área qualquer produz 100 ton/ha e que em média 1 ton de cana de açúcar produz 80 litros de etanol, chegamos a produção de 8.000 litros de etanol/ha. Caso opte em utilizar a irrigação por gotejamento e considerando um aumento mínimo de 50% na produtividade, teremos: 150 ton/ha x 80 litros de etanol, seria igual a 12.000 litros de etanol/ha ou seja 50% a mais de etanol, com potencial de redução de 78% de carbono para atmosfera. Conforme podemos observar na tabela 01, abaixo

 

Tabela 01. Quantidade de etanol produzido em canaviais de sequeiro e por gotejamento.

Sistema

TCH

Etanol / ton de cana

Etanol/ha

Sequeiro

100

80 Litros

8.000 Litros

Gotejamento

150

80 Litros

12.000 Litros

 

 

Baseando-se no estudo publicado pela Forbes, através do uso do gotejamento e com isso aumentar em 50% a geração de biomassa da cana de açúcar, intui-se que teríamos um potencial de remoção de 14,7 milhões de toneladas de CO2/ano.

Além do aumento da produtividade, há outras vantagens que podem nos ajudar a realizar a produção de cana-de-açúcar de maneira mais sustentável. Recentemente foram concluídos 2 trabalhos que mostram que através do uso da irrigação por gotejamento podemos reduzir ainda mais as emissões de CO2 para a natureza (pegada de Carbono)

Nesse estudo, realizado em Minas Gerais, foi comparado a irrigação por gotejamento versus a testemunha por salvamento e mostrou que com o uso do gotejamento a emissão de CO2 reduziu de 0,161kg CO2 /kg de cana produzida para 0,077kg de CO2/kg de cana produzida. Ou seja, uma redução na ordem de 52%.

Para dar continuidade nesse trabalho, foi desenvolvido um estudo com os mesmos parâmetros da emissão de carbono, mas desta vez enquadrados na realidade do setor brasileiro, o Renovabio. Através desse estudo e lançando os dados na Renovacalc, chegamos ao resultado que utilizando o gotejamento a Nota de Eficiência Energética Ambiental (NEEA) aumentou de 35 para 61g de CO2 eq/UM. E isso gerou um acréscimo de renda de 74% na área avaliada, conforme relação, maior NEEA gera mais CBIOS.

Entretanto, mesmo com toda essa importância o agronegócio é alvo de críticas infundadas quando relacionado a fatores ambientais.  Recentemente a FAO (Food and Agriculture Organization) publicou um estudo dizendo que a agricultura é responsável por 70% do consumo de água no planeta. No entanto, essa afirmação foi erroneamente interpretada e divulgada. Uma vez que: Quando realizamos uma irrigação na cultura de cana de açúcar são aplicados aproximadamente, por exemplo, 8 mm, ou seja, 80.000 Litros por hectare. Se considerarmos uma área de 100 ha, aplicaremos 8.000.000 Litros. E se analisarmos de maneira muito superficial podemos concluir que uma lavoura de 100 ha consome a mesma quantidade de água em 4 meses que 240 habitantes consomem por ano. No entanto, o que foi desconsiderado nesse estudo é que desses 8 mm aplicados é para atender o que chamamos de evapotranspiração, ou seja, a evaporação do solo e a transpiração da planta, fenômenos em que a água é devolvida ao seu ciclo natural em forma de vapor, apenas uma pequena porcentagem é capturada pela planta para produção de biomassa, o que gera alimentos, energia, empregos, tecnologia ou seja os 25% da PIB.

            O agronegócio, com a grande participação do setor sucroenergético é um grande trunfo para a diminuição da emissão de carbono a natureza, cabendo a nós, profissionais do setor informar a sociedade através de trabalhos científicos e sérios as grandes contribuições do setor para o planeta.